70's Raw Power é uma viagem pelo que se fez de mais punk nos primeiros seis anos da década de 70, uma década que começou com hippies e terminou com punks, que foi do Flower Power para o No Future. Aqui estão registrados os anos antes da explosão total de 1977. Nela, temos remanescentes dos anos 60 que continuaram chutando tudo como MC5, Stooges, Flamin' Groovies e os obscuros Up! e Crushed Butler.
De bandas já nascidas nos 70, temos os grupos que surgiram na época do glam rock, mas que possuíam uma sensibilidade mais punk, como o pouco comentado Hollywood Brats (o New York Dolls inglês), Hammersmith Gorillas, banda da lenda do rock 'n' roll britânico Jesse Hector, que também é o vocal do Crushed Butler e o próprio New York Dolls, que já esquentava as coisas lá na Big Apple e preparava o solo pro nascimento da blank generation, junto com os Dictators.
Em seguida temos a galera que já vinha definindo o idioma de 77 e calejando o ouvido da molecada pra explosão, são eles: The Saints e Radio Birdman na Austrália; Ramones em NY, Runaways e Crime na Costa Oeste; e The Damned e Eddie and The Hot Rods na Inglaterra.
No meio do caminho, tivemos uma banda sui generis, única em sua época, o Death, formada por negros e que já era 77 em 1974.
Todas as gravações aqui são de antes de 1977, algumas como as do The Saints são de 1976, mas só foram lançadas um ano depois, outras como a do obscuro Bizarros, saíram em compacto ainda em 1976, assim como The Damned, Eddie and The Hot Rods, Crime e Radio Birdman. Outras são demos, como a do Ramones, originalmente gravada em 1975.
Temos também as gravações que passaram anos até verem a luz do dia novamente, como os registros do Crushed Butler feitos entre 1969-1971 e inéditos até 1998! No ep Uncrushed, que reúne todo o material do Crushed Butler, vinha o merecido subtítulo e reconhecimento póstumo de "First Punks From The British Underground".
Outro caso parecido foi o do Up!, porta-voz-musical-oficial dos contraculturais Panteras Brancas de John Sinclair e que possuíam estreita ligação com o MC5, com os quais compartilhavam a mesma filosofia política esquerdista mezzo marginal mezzo revolucionária, típica do final dos 60 e começo dos 70. As gravações do Up!, datadas de 1969-1972, foram resgatadas do obscurantismo em 1995 no retrospectivo lp Killer Up!, que conta até a com participação do beatnik mais querido pelos hippies, o poeta Allen Ginsberg.
Na Inglatrra, outra banda que teve lançamento póstumo foi o Hollywood Brats. Suas gravações de 1973, só foram lançadas em 1980. A banda é o equivalente inglês do New York Dolls, tanto na indumentária de drag queen, quanto na sonoridade trash e punk de seu glam rock. Depois do fim da banda, seu vocalista Steel Casino ainda participou do ninho punk inglês que era a banda London SS e posteriormente formou o The Boys em 1976, com Mat Dangerfield, outro remanescente dos Brats.
No mais é isso, Raw Power é uma energia que sempre esteve presente no rock n roll desde o seu berço e nunca morreu, as vezes é abafada quando o rock se leva a sério demais e se entorpece de “técnica musical” ou estrelismo cinematográfico.
Uma vez li em algum lugar uma frase que reflete bem o que penso a respeito da música, era mais ou menos o seguinte: nem tudo é punk no rock and roll, mas o melhor do rock é punk. Recado dado, aproveitem!